Hesitei entre "O Regabofe" e "A canalha que nos governa" mas, em homenagem a muitos construtores civis desta República optei, para título desta peça, tão simplesmente, por "O homem da mala".
Cito:
"(...) é incompreensível, é mesmo vergonhoso, a forma como, de forma dissimulada, sem discussão que se visse, com quase tudo a ser resolvido em reuniões fechadas à imprensa, a Assembleia da República aprovou ontem (ndr: 30 de Abril) a revisão do diploma sobre o financiamento dos partidos em termos tais que não só escancara as portas à corrupção, como cria alçapões por onde podem escapar-se os que estiverem dispostos a abusar das regras.
Não se compreende que o limite ao financiamento em 'dinheiro vivo' num dos países do mundo com uma melhor rede de terminais multibanco tenha sido aumentado 55 vezes. Não se compreende igualmente o alargamento às campanhas não presidenciais da possibilidade de donativos individuais, um mecanismo que permite receber grossas maquias e depois 'doá-las' ao partido através de redes de militantes arregimentadas por um qualquer cacique. Isto só para dar dois exemplos mais gritantes.
As alterações são chocantes e representam um insulto aos cidadãos eleitores por permitirem que os partidos gastem muito mais em campanha em tempos de crise económica, como mostra a hipocrisia dos falsos moralistas, aqui com destaque para os campeões do comportamento angelical, o Bloco de Esquerda. É fantástico e revelador como, num momento como este, todos estão pateticamente de acordo e não entendem que possibilitar o regresso do tempo das 'malas de notas' representa um tremendo retrocesso no que diz respeito à transparência das campanhas eleitorais e do financiamento dos partidos. Mas é também assim que se compreende como nunca foi possível fazer uma lei contra o enriquecimento ilícito. O resto são basófias(...)."
- Editorial do jornal PÚBLICO de 1 de Maio, por José Manuel Fernandes, com o título "O regresso ao tempo das malas cheias de notas".
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