Mas nem sempre as diferentes são cavadas por fossos tão evidentes como aquele que começámos por referir. Por vezes, pilotos de igual valia disputam um determinado posto, para o qual o "eleito" acaba quase sempre por ser, invariavelmente, o "afilhado" de algum poder com maior ou menor visibilidade.
O MotoGP não escapa a esta regra e a esta lógica.
No ano passado, o português Miguel Oliveira começou o campeonato a dar nas vistas, guindando-se a posições que o material ao dispor não faria suspeitar numa época de estreia. O seu "nemesis", o espanhol Maverick Viñales - rival já batido no CEV em confronto directo - tinha uma estreia discreta. De repente, enquanto Oliveira se debatia com problemas de vária ordem, Viñales aparecia subitamente a discutir vitórias. Tornava-se claro, o piloto da Blusens começara a receber apoio de fábrica (Aprilia) ao nível da formação de ponta, a equipa de Jorge Martinez.
O resto da temporada, mais não foi do que a confirmação destes factos.
Terminada a época, com os equívocos conhecidos para o piloto português que o levaram a abandonar o campeonato antes deste se concluir, Oliveira tem a possibilidade de estrear, em duas provas do CEV, a nova Honda de Moto3. Em duas provas, consegue outras tantas vitórias. Se preciso fosse, o jovem Miguel convence a Honda e a equipa Monlau, de Emilio Alzamora, a contratá-lo para 2012.
Pouco depois, a Repsol (actual patrocinadora da equipa de fábrica da Honda em MotoGP e apoiante de vários pilotos em Moto2 e Moto3) anuncia os seus pilotos oficiais para este ano: Casey Stoner, Dani Pedrosa, Marc Marquez, Alex Rins e Miguel Oliveira. Isto é o mesmo que dizer que os dois espanhóis (Marquez e Rins) e o português eram os pilotos "encarreirados" para a sucessão a Dani Pedrosa na formação principal da Honda, seja daqui a um ano, seja daqui a dois ou três; sobretudo, tendo em conta que Marquez deverá ser o substituto directo do pequeno Dani.
Ontem, o mundo do motociclismo não deixou de olhar com alguma ironia para o anúncio de que Maverick Viñales também seria piloto oficial Repsol...
A conclusão não pode ser outra: o lóbi de Viñales não descansou até colocar o piloto em igualdade com os dois rivais da Monlau. Esta exibição de poder, a somar à que já fora evidenciada no ano passado, parece não deixar margem para dúvidas: este rapaz vai longe, e não será necessariamente pelo seu talento...
Miguel Oliveira aos comandos da Honda da equipa Monlau, hoje em Valência