1 de abril de 2009

A “iberização” do mercado nacional

No plano teórico, da lógica empresarial e da plataforma logística, faz todo o sentido que as marcas (sejam de motos ou de produtos para a queda do cabelo) tenham Espanha como centro regional de gestão da sua actividade na Península Ibérica. Não só por “o país vizinho” estar no patamar social e económico europeu, ao contrário de Portugal, mas também por ter uma burocracia infinitamente menor que a nossa e ser muito mais ágil no desenvolvimento dos negócios. Também porque, convenhamos, geograficamente, Madrid é, realmente, o Km0 desta “jangada de pedra” equidistante dos seus extremos.

Acontece que, as motos não se compram – nem vendem – com a mesma desapaixonada frieza de quem compra – ou vende – produtos para a queda do cabelo. Ao contrário. E é aqui que entra em campo o factor cultural. Há uma História de séculos com mais diferenças e rivalidades que “projectos comuns”. Com mais bordoada que palmadinhas nas costas.

O que separa Lisboa de Madrid são muito mais que 600 km. É um fosso cultural, ideológico e genético maior do que se pensa. Maior do que julgam os espanhóis e os “portugueses” que acham que resolviam a sua vidinha sendo espanhóis. Somos diferentes, ponto.

Três marcas “Premium” estão representadas em Portugal através do negócio espanhol: desde o dia 1 de Janeiro a Harley-Davidson e a Triumph e, já com algum passado, a Ducati. Um sinal dos tempos e da magreza do nosso mercado. Entre elas, a italiana era a que parecia ter encontrado a melhor fórmula, tendo um “ponta de lança” português. Acaba de dispensá-lo. Uma fórmula que a americana também se prepara para adoptar… ou não fossem catalães os seus directores e, por isso, mais sensíveis a questões de nacionalidade. A inglesa está há três meses para arrancar com o negócio em Portugal e parece completamente perdida… Estamos em Abril e (no dia em que escrevo) ainda não tem concessionário em Lisboa a funcionar.
Será esta uma tendência generalista do mercado? Irão mesmo as marcas maiores ceder à tentação de controlar o negócio através das filiais ou importadores espanhóis? É muito provável, talvez só escapando as que já têm subsidiárias abertas em Portugal e, por isso, estão representadas directamente.

O futuro, sobretudo das marcas já aqui citadas, muito dirá sobre a viabilidade e acerto desta estratégia. Aguardemos, então.

Devo esclarecer que nada me move contra Espanha e os espanhóis. Tenho lá amigos e admiro muitas das coisas que fazem. Mas confesso que gosto pouco de “iberismos”. Saibamos respeitar a independência das nações e as particularidades culturais de cada povo.

Editorial da revista MOTOCICLISMO #216, Abril de 2009

2 comentários:

  1. Posso dar um pitaco?

    Como estou no Brasil, e não entendo bulhufas do mercado de motos, sei apenas que tudo aqui é importado e se não o é, é copiado infelizmente, pois as marcas de motos nacionais (não vou citá-las)não tem a meu ver boa tecnologia.

    Então, o que posso concluir:
    Que venham as Ducati,Kawasaki,Triumph,Suzuki,Harleys, e tantas outras...mas entrem com respeito na casa dos outros... :-)

    Poetar é preciso, andar de moto é fundamental!

    abs...

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  2. Espanha, é um Estado que sobrevive a 7 nações, não é uma nação. Portugal, pelo contrário, é uma nação que tenta sobreviver ao Estado.

    Em economias abertas os produtos são tratados por fronteiras de mercados, não por fronteiras nacionais.

    O que se passa com as motas passa-se também com outros produtos, e em ambos os sentidos, mas o que se passa com a Triumph em Portugal é simplesmente culpa das partes intervenientes na negociata (não confundir com negócio).

    Filosofando, só sei que a nação e o maior inimigo do indivíduo. Quanto ao iberismo... falaremos disso entre duas Guinness.

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