13 de novembro de 2010

2011 é já ali

A última corrida da temporada em Valência e os dias de treinos que se lhe seguem são, habitualmente e em simultâneo, o fim da temporada e o início da seguinte. Bem, não será exactamente o início; é mais uma prova de fato que a sua estreia. Este ano não foi diferente.

É claro que, desta vez, havia motivos de interesse acrescidos. Casey Stoner ía estrear-se aos comandos de uma Honda de fábrica, Ben Spies trocava a Yamaha da Tech3 pela M1 oficial e, principalmente - entre outras trocas de menor relevância - Valentino Rossi teria o primeiro contacto com a Ducati.

Comecemos por aqui. Pela primeira vez na sua bem sucedida carreira, Rossi foi "empurrado" para fora da sua equipa pela força das circunstâncias. Não por uma teimosia de contrato, não pelo desejo premente de mudar de ares, apenas porque o seu "número 2" o bateu na pista. Com Lorenzo no outro lado da parede da box da Yamaha Racing e com Ben Spies a chegar, o italiano, apesar de toda a sua valia e talento, perdeu margem de manobra. Bastou-lhe juntar o útil ao agradável (um italiano, vestido por marcas italianas dos pés à cabeça, aos comandos de uma moto italiana... e provavelmente c om um patrocinador italiano a caminho: a Fiat) e mudar de ares, concretizando o sonho de toda uma nação motociclística.

Em Valência, nos dois escassos dias de trabalho a que teve direito, terá começado a sentir a diferença entre um construtor japonês e a pequena fábrica de Bolonha (que tem feito milagres no MotoGP). Foi preciso escolher o tipo de motor a utilizar na próxima época, sabendo que, feita a escolha, não haveria caminho para trás. O Reparto Corse da Ducati, a própria fábrica, apesar de toda a concentração de esforços que fará na equipa, não tem capacidade para corrigir o programa para 2011, uma vez iniciado. Rossi, Burgess, Preziosi (e até Hayden) parecem estar de acordo: vão correr com a versão "Big Bang" que Stoner não conseguiu fazer ganhar como fazia com o "Screamer". O "Dottore" vai ter de provar que a Ducati vence, e domina, sem Stoner, e que ele próprio é capaz de vencer, e dominar, com a terceira marca diferente da sua carreira em MotoGP.

Se os tempos efectuados por Rossi não impressionaram (nem podiam), já o outro grande protagonista da jornada lançou uma onda de choque no paddock. Ou de entusiasmo, depende do lado da barreira; Stoner adaptou-se com facilidade à Honda (que nada tem a ver com a moto que pilotou em 2006 na sua estreia na classe rainha) foi o mais rápido no segundo dia e ficou a 54 centésimos do melhor tempo dos dois dias, tranquilamente assinado por Jorge Lorenzo. Com este ritmo, se conseguir manter a sua moto direita, se não voltar a ser "rolling" Stoner, o jovem australiano poderá ser candidato ao título no ano da transferência beneficiando de uma moto que melhorou substancialmente na fase final desta temporada.

Aliás, confirmado como elemento do Team Repsol-Honda, que alinhará três motos em 2011, Stoner travará com Pedrosa uma luta semelhante à de Lorenzo e Rossi na Yamaha nos dois últimos anos. O pequeno espanhol, seguro apenas pela Repsol, parece ser o elo mais fraco numa formação onde Dovizioso, com um óptimo final de época, vai querer confirmar todo o seu potencial. "Dovi" e Simoncelli (claramente com uma moto melhorada) protagonizaram no Estoril e em Valência um duelo que não se resumia ao resultado imediato, pelo contrário, era um braço de ferro por uma Honda de fábrica em... 2012.

A Yamaha tem, sem dúvidas, a melhor moto do momento. Velocidade de ponta, agilidade, electrónica... e dois dos melhores pilotos da actualidade. Ben Spies chega à equipa oficial depois de um ano de aprendizagem e será, pelo que já se viu em Valência, onde foi o terceiro mais rápido, um caso muito sério. A Yamaha reestruturou a sua formação e, para colmatar a saída de pelas importantes na estrutura foi buscar Massimo Meregalli à formação de Superbikes para dirigir a "orquestra", mantendo Wilco Zeelenberg junto de Lorenzo, com Forcada, e Tom Houseworth, com Spies.

Os testes de Valência foram apenas uma breve "introdução à matéria". Estou em crer que 2011 trará melhores corridas e mais animação. A este facto não será estranho toda esta movimentação no xadrez das equipas e nos interesses das marcas. Poderá mesmo ter sido o factor decisivo para o relançamento da categoria.

Mal posso esperar.

2 comentários:

  1. Caro Vítor,
    A analise está bem feita, mas só há um pequeno pormenor, que não é mencionado, o que era a Yamaha antes de Rossi? e o que será depois de Rossi?.
    Prevendo o futuro, pró ano, lorenzo, ainda irá usufruir da qualidade da mota deste ano, mas as diferenças já não serão tão grandes, vai levar umas boas ensaboadelas do Stoner, do Spies e se calhar do Rossi, nessa altura vai começar a dizer que a moto não presta, como já o fez desde que está na Yamaha. E então em 2011/12 ainda será pior! com os novos motores.
    Continuo a achar que SE o Rossi (e o Pedrosa)não se tivesse lesionado, as coisas poderiam ter tido um final diferente.
    Abraço,
    RC211V

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  2. Caro Rc211V,

    O pormenor não mencionado não altera o sentido do comentário. É verdade que a Yamaha, antes de Rossi,não era competitiva. E que, depois de Rossi, é tem a melhor moto do momento. Mas esse facto encerra, em si mesmo, um dos maiores méritos da Yamaha: ter contratado Rossi!
    Pode perguntar-se: o que foi a Honda depois de Rossi? Ganhou um título com Nicky Hayden, aos comandos de uma moto "feita" por Rossi (exactamente o mesmo efeito que agora beneficia Lorenzo) e depois perdeu-se "politicamente" ao seguir apenas uma linha de desenvolvimento: a que era proposta por Pedrosa. Perdeu-se e perdeu, largamente, competitividade e prestígio.
    Não creio que Lorenzo leve boas "ensaboadelas"; certamente perderá alguns duelos, mas é, em minha opinião, o que está melhor colocado para ser Campeão do Mundo em 2011. O futuro encarregar-se-á de esclarecer.
    Uma última nota: em competição não há "SES". Mas se quisermos incluir o factor aleatório, devemos sempre perguntar porque caíram Rossi e Pedrosa? Principalmente o italiano que, em tantos e frutuosos anos de carreira, nunca cometeu um erro como o que o levou à queda em Mugello (atacar a fundo com pneus frios num treino livre).

    Abraço

    VS

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