2 de junho de 2011

REVtv, primeira temporada: o balanço


Terminou a primeira temporada do REVtv, o primeiro programa de motos a ser inteiramente produzido em Portugal, por meios próprios e emitido na televisão nacional. Nunca, ninguém antes o tinha feito.

Os factos:

O REVtv esteve no ar entre 30 de Janeiro e 15 de Maio na TVI24, numa série composta por 13 episódios originais e dois "best of". Entre estreias e repetições, o REVtv foi para o ar 72 vezes neste período.

O REVtv nº1, o primeiro a ir para o ar, teve, somadas a estreia e as repetições, 258.243 espectadores! A emissão com mais gente a ver, foi a da repetição desse primeiro episódio, às 00h30, com 121.743 espectadores.

O REVtv teve um episódio (nº1) visto por mais de 250 mil pessoas, dois (nº2 e nº6) acima das 100 pessoas e um (nº3) acima das 150 mil pessoas. O programa menos visto teve 30 mil espectadores (nº4). O segundo menos visto teve 70 mil espectadores (nº11). Estas oscilações prendem-se com o número e horário das repetições. Um programa repetido menos vezes e num horário da madrugada tem, logicamente, menos espectadores (a explicação parece simples, mas já houve quem não a tivesse percebido).

No total, o REVtv teve... 1.272.240 espectadores. Um milhão, duzentos e setenta e dois mil, duzentos e quarenta espectadores!

Estes números, porém, ainda não incluem os espectadores na TVI Internacional, nem as visualizações dos programas no site da TVI24 (www.tvi24.iol.pt)

A opinião:

É fácil perceber que, do ponto de vista prático, tendo em conta as circunstâncias, o REVtv foi um sucesso. Afirmo-o com orgulho e sem falsas modéstias. Foi pensado para ser um programa sobre motos, de fácil "leitura", de entretenimento mais do que de "binários e cambotas", vocacionado para todos os que gostam de motos e, especialmente, para os que, por via do acesso às 125cc, agora chegam a este mundo. Penso que a missão foi cumprida com galhardia, boa disposição e uma dinâmica que poucos poderiam esperar entre gente que nunca se havia metido em semelhante "barco". À total inexperiência minha, do Hugo (Ramos) e do Manel (Portugal) contrapunha-se o à-vontade, a simpatia e a beleza da nossa motociclista televisiva, a Susana Bento Ramos, sem dúvida um dos nossos maiores trunfos. Os elogios que recebemos de pessoas de universos muito distintos, nas motos e a quem com elas não se relaciona, provam o que afirmo.

Do ponto de vista profissional e pessoal, orgulho-me do REVtv. Não só pelo seu pioneirismo, mas pela qualidade e dinâmica conseguidas à primeira. Há mais para fazer, há mais para melhorar, há outras 'estórias' para contar, mas o essencial está lá.

Infelizmente, o impacto do REVtv no sector das motos em Portugal foi, motociclistas à parte, uma grande desilusão. As empresas do sector ignoram-no ou, simplesmente, assobiaram para o lado enquanto nós, substituindo-nos em muitos casos (já lá iremos) às próprias empresas que vendem motos, investimos e mantivemos um programa de motos na televisão durante três meses. Tirando duas honorabilíssimas excepções, a maioria não apoiou o programa, patrocinando-o como seria de esperar. Mais: nalguns casos, não só não o patrocinaram, como nem sequer se preocuparam em emprestar motos para aparecerem no programa. Dezasseis semanas esteve o programa no ar e houve gente com responsabilidades na área comercial de algumas marcas que nunca o viu...

E aqui é que está o problema. O risco de encontrar o financiamento para um programa deste tipo é de quem o produz. O risco é assumido. Umas vezes ganha-se, outras perde-se. Mas, que mal irá um sector que se dá ao luxo de ignorar o maior meio de divulgação do seu próprio produto, a televisão. Aquela emissão das 00h30 chegou a um número de pessoas que a imprensa especializada em papel leva meses a atingir!!! Aquele emissão apenas, chegou a mais gente que dois Salões da Batalha juntos. E no entanto, as marcas de motos em Portugal aplicam a maior fatia dos seus budgets destinados a publicidade nas revistas da especialidade e no Salão da Batalha. E falamos de uma só emissão. 120 mil pessoas. Se quisermos falar dos 258 mil que viram o primeiro programa... ou do milhão de espectadores que a série teve, então estamos perante uma realidade a que as marcas de motos jamais em Portugal tiveram acesso. Em que outra iniciativa, em que formato, em que momento, as empresas que vendem motos no nosso país chegaram a uma plateia superior a um milhão de indivíduos?..

Onde está o erro? Eu sei. Talvez o escreva um dia...

Por outro lado, o REVtv fez autêntico "serviço público", preocupando-se com a segurança e a postura cívica de quem anda de moto, substituindo-se não só aos organismos públicos mas, mais uma vez, às próprias marcas (excepção feita à marca que apoiou esta rubrica no programa). No entanto, se considerarmos que, com a Lei das 125cc aprovada há quase dois anos, os distribuidores e importadores, no seio da ACAP, ainda não se conseguiram organizar e entender para promover uma campanha que leve a mensagem das motos ao público - campanha essa cujo budget previsto era bem superior ao que custa o patrocínio de uma temporada inteira do REVtv - então talvez não seja preciso acrescentar muito mais.

A TVI24, manifestando o seu agrado pelo trabalho desenvolvido, apresentou-nos de imediato o contrato para a série prosseguir sem interrupções. Mas a factura que um projecto deste tipo representa obrigou-nos à paragem. É caso para dizer que, neste momento, não há um programa de motos na televisão porque, paradoxalmente, as marcas de motos não o apoiam. Esta é a realidade.

Conclusão:

Perante isto, resta ao REVtv uma só saída. Procurar financiar-se fora do sector das motos para poder dar sequência ao seu trabalho e arrancar com a segunda temporada na "nova grelha" de Setembro/Outubro. Mas será essa a melhor opção para o sector? Será que as marcas querem que passe na televisão um programa do qual estão completamente divorciadas? É essa a mensagem que querem fazer chegar aos seus potenciais clientes?... Acredito que não. Por isso também tenho esperança em que, até Setembro, alguma solução possa ser encontrada dentro do próprio sector.

Vítor Sousa

A opinião aqui expressa é pessoal, enquanto co-autor e apresentador do REVtv, não oficial, e efectuada no âmbito deste blog, não vincula, por isso, a produtora, a estação que o pôs no ar e os restantes autores.

8 comentários:

  1. O meio não percebeu. Provavelmente no meio existe apenas um grande buraco. Encontro 1.272.240 razoes para continuares. 1 abraço.

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  2. Sabes....isto está mau.....É a crise.
    Dentro dos seus carros (de gama alta, claro) e parados nas filas os responsáveis das marcas de motos acusam a ..crise....claro.
    Fernando

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  3. Boas
    Infelizmente neste país, estas opções devem fazer parte de um modelo de gestão avançadissimo e infalível. Os resultados estão à vista.
    Mas tudo isto pode ter uma virtude. Se conseguirem financiamento "externo", podem continuar a ser isentos nas apreciações e dignos na palavra, o que sabendo como se regem as empresas, dificilmente "deixariam" acontecer se houvesse uma marca envolvida.
    Continuo a achar, que foi dos programas com as melhores dicas de segurança que já se houviram em Portugal!!
    Espero ver-vos de volta à antena...

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  4. Pois é Vitor.
    É a tugalidade no seu esplendor.
    Por um lado a inveja e o esperar para vêr "se eles se estampam", por outro a soberba de quem sabe tudo.
    Depois como a coisa funciona, então costumam vir com falinhas mansas apoiar o projecto.
    Vais vêr se para a próxima temporada se eles não aprecem.

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  5. muito bom ... e eu que não tinha tvi24... vi tudo na net...
    parabéns continuem o bom trabalho...

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  6. Eu também vi tudo na net.

    Uma vez que as companhias não ajudam, porque não recorrer aos 1.272. mil para arranjar motas para experimentar? basta organizar algo que dê para filmar a mota e o dono, e vais ver a adesão...
    Conseguem assim ser imparciais, algo que só mesmo o top gear consegue com os enlatados de topo porque já têm fama.

    Afinal de contas, dizer mal de um patrocinador não deve dar bom resultado!

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  7. Pouco conheço do mundo do comércio das motos e ainda menos sei dos contactos e negociações que terão havido entre a REV e as marcas e por isso os meus comentários serão, quase de certeza, ingénuos. Há algumas perguntas a que o texto não responde. As decisões tomadas acerca de público-alvo, opções estratégicas e formato de programa correspondem a expectativas dos potenciais patrocinadores? Que mecanismos foram criados para avaliar o impacto e controlar o retorno da iniciativa? Tipo de audiência, sua caracterização detalhada – sexo, idade, profissão? São factores muito importantes para que um potencial patrocinador adira à iniciativa. Em que aspecto particular os potenciais apoiantes torceram o nariz? Os tempos, como se sabe, não estão fáceis, os investimentos têm que ser criteriosos e as marcas têm que encontrar uma razão forte para deslocar parte dos fundos tradicionalmente reservados a publicidade convencional na imprensa da especialidade e em salões. Ou então terão de assumir um risco grande em investir mais em tempos difíceis. Audiência mais larga não significa necessariamente mais retorno para as marcas. A REVtv tem um potencial sem precedentes para chegar até um público muito mais vasto do que os tradicionais leitores de revistas (que serão provavelmente sobretudo já motociclistas). A linguagem é adequada? O público não ligado às motas encontra o assunto abordado de forma interessante? Esse interesse reverte para as marcas em termos de vendas? Apesar de ter havido visivelmente um esforço, em algumas rúbricas, para falar a não-motociclistas, no geral, em minha opinião, o programa ainda “cheira” muito a programa de motociclistas para motociclistas. Do meu ponto de vista pessoal saúdo a iniciativa. Apreciei muito a coragem e o pioneirismo, a qualidade do resultado e constância dessa qualidade.

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  8. Patrocinios...????
    Não é para futebol, não há patrocinios...é simples.
    A culpa é nossa.... continuamos a comprar vuvuzelas... a beber "minis" a torto e a direito que pagam rios de dinheiro para o futebol, a dar tempo de antena em horario nobre sempre que um jogador abrea a boca... a comprar os três jornais diàrios de futebol que informam quantas vezes um jogador da 3ªdivisão arrotou por dia...
    ...porque se o milhão de espectadores contribuissem com o valor do custo de um jornal diário de futebol ( 1 euro )...dava 1 milhão de euros, que daria para ter a segunta temporada.
    ...pensem todos nisso

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