2 de agosto de 2011

A crise, ou um sinal dos tempos?

O fim de semana até correra bem para as cores da Yamaha. Embora sem nenhuma vitória, a marca colocara os seus dois pilotos no pódio, em ambas as mangas da nona jornada do Mundial de Superbikes deste ano, em Silverstone.

Eugene Laverty, um piloto em quem se deposita grande esperança para o futuro fora segundo e comandara ambas as mangas, Marco Melandri que vinha de duas vitórias nas quatro últimas mangas, fechou o pódio. O italiano foi mesmo dos pilotos mais falados durante o fim de semana pois vira o seu contrato automaticamente renovado com a marca por ocupar uma posição nos três primeiros do campeonato a 31 de Julho... Era a primeira vez em quatro anos que Melandri não teria de mudar de equipa. Era a primeira vez, desde 2008, que a equipa Yamaha em SBK ía manter os seus pilotos duas época seguidas.

Tudo parecia correr bem; e no entanto... A 1 de Agosto, no dia a seguir à prova inglesa, a Yamaha divulgou um comunicado em que anunciou o seu abandono do campeonato de motos derivadas de série, justificando este medida com um reenquadramento da sua estratégia de marketing para a Europa. Em português que todos percebam, devido à enorme quebra de vendas das motos super-desportivas no Velho Continente, a marca vai deixar de gastar as verbas que investia na manutenção dos programas desportivos, limitando-se a fornecer material a equipas privadas.

Por isso, entendemos que, mais que um reflexo da crise que a economia mundial atravessa e dos dias difíceis que afligem a zona Euro, e também o Japão, esta medida enquadra-se numa redefinição de estratégias comerciais das grandes marcas que deixam de ver nas corridas um bom investimento dado que estas não têm consequência nas vendas do dia a dia. Na semana anterior à corrida de Silverstone, alguma imprensa italiana deu conta de um possível abandono da Aprilia no final da próxima época (se não antes...) motivada exactamente pelas mesmas razões. As vendas em stand da RSV4 estão muito aquém do esperado, apesar de se tratar de uma moto comprovadamente eficiente e... Campeã do Mundo!

Por outro lado, com o aproximar das regras do MotoGP às motos de série (vai passar a ser possível utilizar blocos de série e a cilindrada sobe para 1000 cc, ou seja, a cilindrada das tetracilíndricas desportivas que correm nas SBK... e este tema dava outro artigo), as marcas não vêem necessidade de gastar dinheiro a manter programas desportivos e desevolvimento tecnológico em paralelo, preferindo, quase de certeza, concentrarem-se no MotoGP que é muito mais impactante em termos de marketing e funciona melhor como laboratório de tecnologia pois as fronteiras estão num horizonte mais distante do que as restrições impostas às motos derivadas de série.

O mesmo caminho parece estar a seguir a Suzuki (aí com problemas acrescidos, pois durante décadas, os seus produtos âncora foram as motos super-desportivas) e não nos espantaria se a Honda seguisse a mesma via. Só a Kawasaki parece estar verdadeiramente contra a corrente.

Talvez seja cedo para afirmá-lo, mas o desporto motorizado de duas rodas pode estar à beira de uma grande reforma, na qual campeonatos e classes vão desaparecer abrindo novas vias para o futuro.

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