10 de fevereiro de 2009

O MotoGP e a televisão II

A decisão da Dorna - citada no meu post anterior sobre este tema – foi tomada no “tempo das vacas gordas”, quando parecia que esta economia virtual em que vivíamos não ía estourar.

Acontece que estourou. Hoje, provavelmente, arrisco afirmar, a decisão não seria a mesma. Com as verbas de publicidade a caírem a pique, as próprias televisões irão sofrer e ver-se obrigadas a reduzir custos. A concorrência do Mundial de Superbikes (em directo no Eurosport) vai colocar o MotoGP em maus lençóis. Se o espectáculo se mede pela emoção, estamos conversados sobre a primazia de um sobre o outro. Sem as 125cc, com as 250 reduzidas a metade da grelha e com 17 motos (ou 17 + 2 “dummy bikes”) no MotoGP, a fórmula máxima do motociclismo arrisca-se a ver a sua audiência televisiva fortemente afectada.

O tiro sairá, inevitavelmente, pela culatra.

Deixo aqui um excerto da crónica do jornalista britânico Mat Oxley, na revista Bike deste mês, sobre o título “Bye Bye Eurosport”, elucidativo e cáustico como sempre:

“O Eurosport foi corrido da festa do MotoGP porque é um canal barato por cabo e satélite (…), que não está nem perto da classe dos novos amigos ricos da Dorna. Levou um pontapé no rabo enquanto o CEO da Dorna, Carmelo Ezpeleta prova champanhe e canapés e fala de negócios com o director do desporto da BBC, acabado de regressar de duas semanas nas Maldivas.”

2 comentários:

  1. Este "estouro" económico não é mais que uma confrontação entre grandes potências por meio de soft-power. Se no passado os confrontos eram normalmente por hard-power - e mesmo na guerra fria o efeito dissuassor era desse tipo -, com esta vaga de globalização a interdependência gerada entre Estados permite aos que, tendo maior supremacia geo-estratégica, podem tirar partido disso sem disparar um tiro.
    Veja-se, por exemplo, a extrema dependência energética da UE em relação à Rússia, ou, e isto é um ponto importante, a absoluta dependência das industrias ocidentais das capacidades produtivas chinesas, afectando todo o sector secundário e terciário do Ocidente e a própria economia chinesa.
    Este tipo de confrontação é novo e nem sequer é deliberadamente hostil, ele é suscitado por uma enorme interdependência dos sistemas financeiros e económicos e da impossibilidade de os controlar. Os Estados afectados, nem sequer sabem como ganhar posições vantajosas depois de desencadeado o conflito - e conflito aqui pode ser somente o antagonismo de interesses -, o soft-power sempre foi usado em condições pilotadas e essa ilusão instalou-se entre as democracias mas, rapidamente, os melhor apetrechados socialmente ião obter vantagens posicionais, estabelecendo alianças de conveniência com vantagens mútuas, afastando-se dos tradicionais aliados do hard-power. A Alemanha ou os USA são um exemplo disso.
    Ocorreu-me esta lengalenga porque as competições motorizadas estiveram interrompidas durante a WWII e, em último recurso, elas poderão voltar a ser interrompidas ou minimizadas.
    Como sabem, os Estados são absolutamente indiferentes às questões ambientais. O seu interesse é unicamente energético, caminhando as políticas públicas à sombra do ambientalismo, donde não é de estranhar que as competições motorizadas não sejam bem vistas pelos poderes políticos - dão um mau exemplo e têm um poder de atracção muito forte.
    Tudo isto para citar as últimas palavras do Oxley que cito de memória:
    "Enquanto houverem uns miúdos, umas motas e um cronómetro irá sempre haver competição".
    Assim seja, porque o público está sempre cá.

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  2. Eu já tinha dito e mantenho; não dou um ano (no final desta temporada que aí vem) para o "Don Caramelo" querer assinar com o Eurosport novamente. De 50 e tal países que viam as transmissões do MotoGP através do Eurosport, sobraram-lhe, com esta ideia brilhante que teve, uns 13... Já para não falar que são países tipo; Dinamarca, Escandinávia, etc. Como já referi num post do meu blog, está a ficar cada vez mais esclerosado.

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