É verdade que as motos mantêm a fidelidade aos seus princípios e conceito; nem podia ser doutra forma. São plataformas com grande distância entre eixos, que lhes limita a agilidade, de baixa altura livre ao solo, que lhes compromete a inclinação levando-as a facilmente arrastarem apêndices e chassis pelo chão, são pesadas, o que amedronta principiantes. Mas, toda a evolução técnica de que foram alvo nos últimos anos, tanto no capítulo do motor como da ciclística, tornou os maiores ícones motorizados americanos (105 anos de história) em motos muito eficazes em matéria de performance e de comportamento.
O facto de parecerem exactamente iguais ao que sempre foram, apenas lhes acrescenta carisma, em nada as diminui.
Querem a prova?
Esta semana estive em Espanha para conduzir as principais novidades da marca para 2010: uma Dyna Wide Glide, uma Fat Boy Special, e uma Electra Glide Ultra Limited (e também a XR 1200X que já fora apresentada antes). A marca levou-nos para as montanhas que, a norte, circundam Valência. Fizemos cento e poucos de quilómetros em estradas sinuosas, com bom e mau piso e curvas para todos os gostos.
Nunca, em caso algum, há dez anos atrás, a Harley-Davidson se atreveria a fazer uma apresentação neste tipo de geografia. As motos iriam abanar a cada ressalto em curva, iriam sair em frente em cada gancho, os travões iriam acusar fadiga que lhes tiraria eficácia, os braços iriam ficar dormentes da vibração, as mudanças iriam saltar, os motores iriam responder mal e devagar para se fazer uma ultrapassagem. Nada disso acontece hoje.
De todas, a que mais me continua a impressionar é a mastodôntica Ultra. Agora Limited por vir com um motor de 103 polegadas em vez do 96 das suas irmãs. Esta moto que à vista e em manobras “à mão” impõe respeito ao mais experiente, revela depois em andamento uma agilidade que a torna mais eficaz em estrada de montanha que algumas das suas parentes das gamas mais “baixas”... e leves. Muito deste comportamento fica a dever-se à adopção recente de um novo quadro que veio conferir-lhe uma agilidade dificilmente imaginável a quem nunca a conduziu.
Hoje, as H-D travam, curvam, andam e não vibram em excesso. Tal como a marca insiste em referir: é preciso evoluir, sem perder a alma. Mudar e ficar na mesma. Mas do lado bom da equação.


